Existe uma tendência das pessoas em romantizar a maternidade. E, quando começam os obstáculos, as dificuldades, os problemas, as mães sentem-se culpadas por não se sentirem tão felizes e realizadas no seu papel de mãe.
A romantização da maternidade prejudica as mulheres, e os homens também, e atrapalha a preparação para a realidade do que é cuidar de um filho.
Filhos são pessoas exigentes, que necessitam de cuidados, tempo, investimentos materiais e emocionais. Nem tudo são flores neste caminho.
Talvez seja melhor dizer, sim nós amamos nossos filhos, apesar de tudo. E é neste apesar de tudo que está a maior parte dos problemas, dores de cabeça, irritação, vontade de jogar tudo para o alto. A grande questão é que não podemos jogar tudo para o alto, sem pagar um preço emocional por isto.
Ao nascer um filho nos tornamos responsáveis por eles, assumindo ou não esta responsabilidade.
Nem sempre estamos preparados para a função. E este preparo inclui não somente o dar banho, trocar, dar comida, levar e buscar, mas o preparo interno.
Onde colocar aquela pessoa, o filho, dentro de nossa vida. Porque eles ocupam um espaço enorme. Para encaixá-los temos que abrir mão de muitas coisas, tempo, dinheiro, sono, lazer, descanso, sossego. Como eles ocupam um lugar enorme em nossas vidas temos que dar um jeito de abrir espaço, o que significa, tirar espaço nosso. Não tem jeito. Ou abrimos mão das nossas necessidades pessoais ou eles ficam na mão. Algumas nem sofrem tanto pela perda do espaço pessoal e outras sofrem bastante.
Como este sofrimento não é bem visto, não é consentido, porque mãe é mãe e tem que achar que sofre no paraíso e ainda gostar disto, lá vem a culpa. A culpa por achar que se todas as mulheres são tão felizes e realizadas como mães, aquela que não se sente tão bem assim deve ter algum problema.
Na maternidade romantizada não é natural a mulher não estar feliz sendo mãe.
Deixar de romantizar a maternidade seria bem melhor porque aí as mulheres, antes de ter um filho, poderiam se preparar pensando que, ao ter um filho, estará assumindo uma grande responsabilidade. E responsabilidades trazem uma sensação boa de dever cumprido mas exigem trabalho duro. Não dá para sempre estar legal, bem disposta, rindo de felicidade, com aquele olhar embevecido das propagandas.
A mãe tem que ser dar o direito de reclamar que está cansada, de saco cheio, sobrecarregada, sem que alguém olhe para ela com um olhar de reprovação do tipo “ como assim, você deveria estar muito feliz por ter um filho”. Pode até ser que algumas sintam-se felizes , mas não o tempo todo, porque é cansativo fisicamente e, principalmente, emocionalmente.
E os pais? São fundamentais, a não ser que a mulher esteja sozinha nesta empreitada. Mas vou precisar de um artigo inteiro para falar deles. Fica para o próximo.