Sua Majestade a TV

Ela reina absoluta. Todos a reverenciam. Em sua presença todos se calam e, quando alguém fala, é pedido silêncio. Ela tem poderes sob seus súditos. O que ela diz é ouvido com respeito. Ela dita normas e regras e tem sempre razão.

Ocupa o centro das salas e domina todos os lugares. Chama a atenção sobre si com suas luzes, cores e ruídos. Dita moda, dita comportamentos, o que usar, o que pensar, o que é bom ou ruim.

Todos circulam a sua volta fascinados. Em sua presença, as crianças são caladas, as conversas são adiadas, ou se fala da sua última programação.

Os que vivem dentro dela são tratados como divindades, pessoas fora do comum. Todos querem saber tudo de suas vidas, do que gostam, o que comem, como se vestem, com quem andam, a quem amam. E, depois, tentam imitá-los.

Suas histórias deixam de ser ficções e são tratadas como realidade. Personagens de novelas são discutidos como se fossem reais. Ninguém sai, ninguém passeia, fala ao telefone, quer saber o que ocorreu no dia, nos horários nobres da televisão.

Todos se rendem aos seus apelos. O que é anunciado por ela é visto com a maior credibilidade.Como que em transe, hipnotizados, seus ouvintes se rendem a suas chamadas.

Aos seus pés todos passam horas e horas, esquecidos do mundo, porque têm a ilusão que o mundo vem através dela.

Cada vez mais aumentam seus súditos, cada vez mais diminui a idade dos que a veem. Pequenos bebês são deixados a sua frente, maravilhados com suas luzes e cores. Crianças deixam de brincar, de jogar, ler, desenhar, estudar, se divertir com amigos porque ficam ali prostradas, na sua frente, horas a fio.

Pessoas brigam para ter o seu controle mas alguns preferem ter várias espalhadas pelos cômodos da casa, para cada um escolher o programa que deseja ver.

Nem é preciso ter qualidade na sua transmissão. Só a sua presença acalma, hipnotiza. Com ela a solidão se alivia, o tempo passa, sem se aperceber. O mundo entra sem que ninguém precise sair.

Ela traz conhecimento de tudo mas nada se aprende com profundidade . Faz mitos e os  derrubam com a mesma facilidade, colocando outros no lugar. Faz deduções apressadas que acabam passando por verdades. Explora as desgraças até as últimas consequências. Inventa histórias e calúnias. Faz fofocas e se mete na vida alheia.

Seu reinado pode ser uma ditadura mas, apenas com um simples aperto de botão, podemos acabar com o seu poder.

3 thoughts on “Sua Majestade a TV

  1. Concordo plenamente com suas observações à respeito desta babá eletrônica, que embala desde os recém nascidos até os idosos solitários… e os nem tanto. É um vício! Confesso que preciso do seu “ruído” para ser minha companheira até adormecer. Apenas, tornei-me mais seletiva quanto aos programas. Não me iludo, há tempos, com novelas e suas gritarias nas brigas e colóquios amorosos. Sou adepta de programas jornalísticos, séries para descontração e tudo que possa me acrescentar na cultura, política e o mais importante: na vida.

  2. Que bom Salete te ouvir novamente,tenho muita saudade dos nossos papos!!!!Salete em relação a “rainha” televisão , acho que no Brasil ela exerce um papel muito importante neste Brasil tão grande e diverso, papel na mudança de comportamento,é realmente um fenômeno a força da TV principalmente a rede Globo no Brasil.Até se relaciona a televisão na mudança de padrões inclusive a taxa de natalidade e a mudança de visão do mundo das mulheres brasileiras,sem falar que para muitas pessoas o único meio de informação é a TV e o rádio.Sem dúvida todo o excesso é prejudicial.tenho um exemplo que ilustra bem isto,uma amiga da Fernanda tem um filho de 1 ano e meio que acorda no meio da noite e pede para a mãe ligar a TV e colocar na net o desenho do Mikey!!!!! O convívio dos casais é prejudicado.O hábito de se ouvir música em casa,aquele papo gostoso,muito se perdeu com este excesso de TV ,celulares e Ipads ,muito se ganhou também!Acho que é uma arte equilibrar tudo isto!

  3. Olá Salete! Rendendo comentários esse artigo hein? Em casa, fui mais radical com a majestade (depois da mudança a tv nao funcionou mais) e por opção minha, nao da família, não comprei outra…autoritária?! Pode até ser, mas por uma boa causa…que maravilha tem sido ouvir música , as vozes dos filhos e do marido ao invés de gritos, alaridos e tragédias vindos da tv, que em nada dizem respeito a minha vida… Qto à família, parecem que estão se acostumando ainda com a idéia… O difícil está sendo administrar as visitas, que acham isso muito estranho: ” como assim não tem tv??!”

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