Li com preocupação que houve um aumento de 775%, em 10 anos, no uso de ritalina no Brasil. Este remédio é conhecido por ser usado por pessoas com TDAH ( transtorno de déficit de atenção e hiperatividade). As queixas em relação a uma criança que acaba sendo diagnosticada com TDAH é que ela é desconcentrada, desatenta, irrequieta, impulsiva, sem limites.
O motivo de minha preocupação é a desconfiança em relação a diagnósticos de TDAH feitos de forma apressada e sem uma avaliação mais profunda de outras variáveis que podem ser responsáveis por estes comportamentos que a criança apresenta.
Quando uma criança se mostra desconcentrada, desatenta, irrequieta, impulsiva, sem limites, pode ser realmente que ela tenha este distúrbio conhecido como TDAH, mas existem muitos outros motivos que fazem com que uma criança apresente estes comportamentos.
Em meu trabalho como psicóloga e pedagoga, já ouvi de pais, professores e médicos que determinada criança sofria de TDAH, mas que, em uma avaliação mais profunda, o diagnóstico não se confirmava.
Uma avaliação apressada, baseada apenas no relato das dificuldades da criança em “ prestar atenção” ou no “não para quieta”, ou uma fixação neste diagnóstico, pode acabar submetendo a criança a tratamentos medicamentosos desnecessários. Antes de se concluir por este diagnóstico, deve-se fazer uma avaliação global da criança, se possível por profissionais de diversas áreas, como psicólogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos, nutricionistas.
Quais seriam as outras possíveis variáveis que afetariam o comportamento da criança e causariam esta desatenção e hiperatividade?
Uma das investigações que deve ser feita é em relação as possíveis dificuldades emocionais que a criança, ou sua família, possam estar apresentando. Sabemos que crianças que estejam passando por problemas emocionais podem reagir de forma a se tornar alheias ao ambiente, desinteressadas ou agitadas.
Crianças que vão mal na escola, não aprendem, ficam no “mundo da lua” ou irrequietas, nem sempre são portadoras de DTAH. Muitas vezes o desinteresse e falta de aprendizagem tem a ver com o método pedagógica da escola que pode não ser adequado para aquela criança.
Outra causa muito comum para comportamentos agitados e desatentos, é a educação praticada em casa. Hoje em dia é comum os pais criarem seus filhos sem a noção clara e coerente dos limites. As crianças são criadas achando que “tudo pode”. Os pais tem dificuldades de assumir a autoridade paterna e mostrar que quem comanda a casa são eles. Diante de pais que não assumem o comando, são as crianças que assumem o poder. As crianças no poder não têm limites e não aprendem a ter paciência e auto controle. São imediatistas, agitadas, impulsivas, facilmente irritáveis, com dificuldades de concentração.
Outro motivo já estudado para a diminuição da capacidade de concentração e os transtornos de atenção é a exposição prolongada das crianças diante da televisão, computadores, games. Umas das explicações para isto é que a linguagem televisiva e dos games contêm um excesso de estimulação. A rápida sucessão das imagens, o excesso de luzes e sons, acostuma a criança, ou seu cérebro, neste ritmo intenso, ficando depois difícil a concentração em atividades que requeiram um ritmo mais lento e mais atenção. As crianças brasileiras passam muito tempo na frente da tv ou usando computadores e games, em detrimento de outras atividades como ler, brincar, praticar esportes que ajudam no desenvolvimento da atenção e concentração.
Também já foi estudado o efeito da ingestão de determinados alimentos sobre o comportamento hiperativo. Ao comer alimentos com determinados corantes artificiais e conservantes, bastante comuns em alimentos industrializados, algumas crianças tem o comportamento de hiperatividade agravado. Hoje em dia é comum as crianças consumirem este tipo de alimentos sem restrições.
Algumas crianças apresentam dificuldades de entender aquilo que ouvem. Elas escutam bem, mas não conseguem processar no seu cérebro a informação que estão ouvindo. Estas crianças são distraídas, desatentas, parecem ter problemas de memória. Elas podem acabar sendo diagnosticadas como tendo TDAH, porém, a avaliação fonoaudiológica pode constatar outro tipo de problema e outro tratamento que não incluiria o uso de medicação.
Antes de diagnosticarmos uma criança com TDAH, somente baseado no seu comportamento, precisamos analisar várias circunstâncias de sua vida e da vida familiar, para que não seja feito um diagnóstico apressado e a criança seja medicada desnecessariamente.
Uma avaliação mais profunda e um diagnóstico bem feito encaminhará a criança para o tratamento correto e mudanças de vida que se fazem necessárias para que ela possa ser ajudada.